E o Sol brilha
nos dias de morte
E a chuva cai
Dilacerando a sua,
a minha melancolia
E nada do que foi dito
nada do que as línguas pregam
nada deve,
nada será,
levado em consideração.
E as nuvens limpas se abrem
glorificando sua tristeza
E o tenebroso céu de tempestades
se prostra diante sua felicidade.
Mas ainda existem
aqueles
Ousam acreditar que ainda podem
tudo
Mas nada podem
E estão errados em ditar suas
regras
Àquilo que é maior e
indomável.
Mas ainda tentam
falham
e tentam
Manipular a tudo,
todos.
Como palavras vãs jogadas ao vento.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
sábado, 1 de dezembro de 2012
Unhappy Girl
Estava lavando os copos, sentindo a
água gelada cair violentamente em suas mãos. O som da música alta a sua volta,
milhares de vozes ecoando de todos os lugares, risadas e mais risadas, desde as
mais agudas e irritantes até as mais secas e tímidas. Era só mais um dia comum
na rotina de um trabalhador honesto do subúrbio de São Paulo. Talvez não viesse
a ser o melhor emprego, mas sempre lhe permitiu gozar de um pequeno sorriso de
orgulho no final do dia.
E um estranho qualquer pedia por mais uma rodada. Enchia o pequeno copo uma
dose a mais de qualquer coisa que o cliente quisesse e, em algumas ocasiões,
carregava a garrafa até a mesa do indivíduo em questão, pousando suavemente a
bebida de modo a não atrapalhar o jogo dos companheiros. E lá ia ele,
continuava seu trabalho. Lavava, ria com os amigos, jogava um pouco de conversa
fora, vez ou outra também até arriscava engolir um pouco do uísque. Nada lhe
entristecia, nada nem ninguém possuía motivos para deixá-lo assim.
Mas havia algo que lhe vinha pesando a mente há alguns dias; apenas uma coisa
que o deixava para baixo. Ela. Sim, sempre era ela. E não tratava-se de uma
moça que, porventura roubara seu coração Estava mais para um sentimento de
afeto por aquela jovem, mesmo nunca tendo trocado uma palavra sequer com ela
além dos obrigatórios “aqui está” ou “obrigado e volte sempre”. Sim, ela sempre
voltava. Todos os dias, no mesmo horário, quando a noite decidia assumir o lugar
das não tão gloriosas manhãs. E sentava-se ao fundo do bar, em uma mesa
exclusivamente dela. Colocava sua bolsa de couro preta sobre uma das cadeiras e
ele já sabia o que ela queria, então, sem demora, levava o copo de vodka dela.
E lá permanecia, horas, sentada, refletindo sobre o tudo. Os dedos deslizando
ao redor do copo, enquanto se segurava para não chorar.
E ele, de repente, se entristecia. Observava-lhe por tanto tempo, mas nunca
entendeu o que ela fazia ali, por mais que se esforçasse para que o cérebro lhe
trouxesse alguma conclusão. Era jovem, bonita e saudável. mas era triste como
ninguém nunca foi, e ela não precisaria derramar lágrimas para que este fato se
tornasse notório . E cada fina gota de água que não escorria de seus olhos lhe
custava um peso em sua consciência. E o relógio ainda corria, mas ninguém
parecia perceber. Os mesmos sorrisos, as mesmas brincadeiras, os mesmos
xingamentos e a mesma garota triste, presa em uma cela que ela fizera questão
de criar para si mesma. Ele olhava o relógio, voltava a atenção para a jovem.
Minutos passaram, e ela permanecia bebericando sua vida. Logo iria terminar e
ir embora, fazer só Deus sabe o quê.
Não permitiu. O silêncio diário dela o agonizava. Afastou-se de todos os outros,
segurando seu pequeno baralho, um já velho e sujo, mas que guardava zelosamente
sob o balcão. Sentou-se, olhando-a, pensando nas atitudes que ele deveria
tomar, ou se ao menos deveria mesmo pensar em algo em vez de agir por instinto.
Independente do que escolhesse, ele agiu, fosse por instinto, fosse por pena.
Tomou coragem e abriu um sorriso. Ela tentou fazer o mesmo. Aquilo o fez
sentir-se aliviado, de alguma maneira. “A bebida é por conta da casa”, disse. E
antes que ela pudesse responder-lhe, pôs as cartas sobre a mesa. “Buraco?”, ele
perguntou. Algumas lágrimas escaparam o macio rosto da jovem, que acenou
positivamente com a cabeça. Ele distribuiu as cartas. E daquele dia em diante,
sabia que foi capaz de ajuda-la a escapar de uma prisão que a própria havia
criado. E ele se sentia bem consigo, assim como ela se sentia bem com ele.
E
sem mais nem menos, ela estava livre.
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